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Abandono de Casas Rurais em Itinga-MG: a observação de um pedaço de estrada

Atualizado: 17 de jun. de 2019

Herena Reis Barcelos*


Sertão: estes seus vazios. O senhor vá, alguma coisa encontra.


Resumo: Como no Brasil, a migração sazonal no Vale do Jequitinhonha é um fenômeno social antigo, intensificado na região pela seca e pobreza. Este estudo se propõe a descrever a observação de um pedaço de estrada rural de Itinga-MG, no que diz respeito ao abandono das casas localizadas na região da comunidade Água Fria, por meio observação das casas avistáveis de dentro do carro, em movimento, na passagem pelo percurso de 18 km da sede até a Escola Municipal Plácido Loiola, no dia 10 de abril de 2019. A análise dos dados se deu por regra de três simples. Foram contadas 46 casas, 2 igrejas e um trailer. Dentre as casas, 32 pareceram habitadas, ao passo que 14 passavam a impressão de abandono. Dessas 14, 8 estavam claramente abandonadas, tendo em vista que já haviam se deteriorado consideravelmente com o tempo. Ribeiro (2018) confirma o fenômeno da migração na região, com o abandono de casas, formando um cenário de cidade fantasmas em algumas localidades de cidades próximas à Itinga, reflexo da seca e baixo desenvolvimento da região. É importante conhecer esse fenômeno de maneira mais aprofundada, o que sugere mais estudos na área, inclusive com trabalhos mais sérios que este.


Palavras-chave: Migração. Itinga. Casas abandonadas. Vale do Jequitinhonha.




INTRODUÇÃO

A população rural brasileira, que já chegou ao índice de 44%, vem diminuindo cada vez mais. Em 1996, apenas 22% da população nacional vivia no meio rural. Além da redução da fecundidade rural, a redução dessa população se deve aos movimentos migratórios (CAMARANO; ABRAMOVAY, 2018).


Uma análise de dados dos anos 1950 a 2000, é um importante ponto de análise para a migração, pois traz a dimensão do fenômeno no Brasil: "a cada 10 anos, um em cada três brasileiros vivendo no meio rural opta pela emigração" (CAMARANO; ABRAMOVAY, 1999, p. 1). No Vale do Jequitinhonha não é diferente, com a pobreza e a seca predominante, a migração é um problema antigo (RIBEIRO, 2018).


Este estudo se propõe a descrever a observação de um pedaço de estrada rural de Itinga-MG, no que diz respeito ao abandono das casas localizadas na região da comunidade Água Fria.


METODOLOGIA

O experimento diz respeito à observação das casas avistáveis de dentro do carro, em movimento, na passagem pela estrada da Água Fria Fábrica, no percurso de 18 km da sede até a Escola Municipal Plácido Loiola, no dia 10 de abril de 2019. A análise dos dados se deu por regra de três simples.



CONTEXTUALIZAÇÃO

O município de Itinga está situado no nordeste de Minas, no Médio Jequitinhonha, uma das regiões mais pobres do Brasil. Alguns de seus municípios possuem indicadores sociais, como Índice de Desenvolvimento Humano – IDH e renda per capita, entre os piores de todo país (PINTO, 2009). A economia da região do Jequitinhonha é baseada na pecuária bovina extensiva e agricultura, atividades com baixo rendimento. Somado a isso a relativamente alta densidade demográfica da região, tem-se uma região de grande vulnerabilidade, especialmente em tempos de seca, na qual diminui ou mesmo suprime a já precária faixa da renda monetária dos trabalhadores (VIDAL, 2001). Para Gonçalves (1997, p. 16), o Vale do Jequitinhonha

[...] compreende seis mesorregiões, subdivididas em onze microrregiões, com sessenta e três municípios, estando 41 totalmente incluídos na bacia e 22 parcialmente. O índice de pobreza ostentado pela região é elevado, ocasionando êxodo rural para os grandes centros urbanos e um esvaziamento demográfico persistente. Com mais de dois terços da população vivendo na zona rural, ela tem sido caracterizada em vários estudos como "região deprimida", onde os índices de pobreza, miséria, desnutrição, mortalidade, analfabetismo, desemprego e infra-estrutura sócio-econômica imperam desfavoravelmente em grande parte dos municípios. Vários diagnósticos convergem ao apontar as restrições hídricas e as secas periódicas como agentes relevantes para o baixo desempenho da agropecuária na bacia, que ainda responde por 30% do PIB regional. Esses fatores, somados à carência de investimentos públicos e privados, corroboram a tese de que a região é expulsora de população.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram contadas 46 casas, 2 igrejas e um trailer no percurso. Dentre as casas, 32 pareceram habitadas, ao passo que 14 passavam a impressão de abandono. Dessas 14, 8 estavam claramente abandonadas, ou considerando o conhecimento prévio da autora sobre os moradores migrantes ou tendo em vista que as construções já haviam se deteriorado consideravelmente com o tempo. Em percentual, o número de casas abandonadas corresponde à cerca de 30% do total, como pode ser visto no gráfico 1.


Gráfico 1: percentual de casas aparentemente desabitadas na estrada entre a sede de Itinga e a Escola Municipal Plácido Loiola, em abril de 2019

Fonte: Dados da autora


Isso significa dizer que quase 1/3 da população rural do pedaço de estrada observado já não mora em suas casas. É importante atentar que os resultados estão sujeitos ao julgamento desta observadora sobre as casas parecerem abandonadas ou não. Indícios como animais, ou roupas estendidas em varais, foram considerados indicativos de habitação, mesmo quando nenhum morador era visto.


Ribeiro (2018) confirma o fenômeno migratório rural na região, com o abandono de casas, formando um cenário de cidade fantasmas em algumas localidades de em municípios próximos à Itinga, como Araçuaí, Minas Novas, Chapada do Norte e Jenipapo de Minas. Para o autor, a mecanização das colheitas reduziu o trabalho nas usinas de açúcar e álcool, em São Paulo, para onde ia grande parte dos pais de família em busca de uma renda mínima para enviar para as mulheres e filhos.


Isso porque a migração para o corte de cana é temporária: o marido deixa para trás a mulher e os filhos, para quem envia mensalmente o dinheiro ganho no duro trabalho braçal, que garante a feirinha e ajuda a movimentar o comércio nos pequenos municípios. Sem o trabalho temporário nas usinas – ou nas colheitas de café – e sem nenhuma perspectiva de alguma melhoria no lugar de origem, o jeito é se mudar para a cidade grande em busca de alguma oportunidade de trabalho, normalmente, na construção civil ou em algum serviço doméstico, devido à falta de instrução, indo embora com toda a família.

Sobre a realidade de trabalho de Itinga, a pesquisa no MTE (BRASIL-MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2014) e na mídia eletrônica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2013) mostrou que mais de 50% da população não é economicamente ativa, além disso, dentre os empregados muitos estão em condição de subemprego, com baixos salários e falta de registro previdenciário. Ainda segundo o Instituto, em 2010, na cidade de Itinga, dentre a população com mais de 10 anos, mais de 50%, especialmente as mulheres, apresenta-se como não economicamente ativa.


Em matéria de 3 de julho de 2015, o Blog do Banú, citando o Jornal Estado de Minas, aponta para uma preocupação consequente dos fenômenos migratórios no Vale do Jequitinhonha, tendo como pano de fundo a cidade de Padre Paraíso, portal de entrada da região, localizada a cerca de 100 km de Itinga: o crescimento desordenado da população das pequenas cidades aumenta o número de aglomerados com características de favelas, onde a população já enfrenta problemas como drogas e falta de infraestrutura.


CONCLUSÃO


A migração sazonal é uma realidade na cidade de Itinga, reflexo da seca e baixo desenvolvimento da região. É importante conhecer esse fenômeno de maneira mais aprofundada, o que sugere mais estudos na área, inclusive com trabalhos mais sérios que este.


REFERÊNCIAS

BRASIL - MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Dados e Estatísticas. Programa Economia Solidária em Desenvolvimento. Disponível em: < http://acesso.mte.gov.br/dados_estatisticos/>. Acesso em: 22 out 2014.


CAMARANO, Ana Amélia; ABRAMOVAY, Ricardo. Êxodo rural, envelhecimento e masculinização no Brasil: panorama dos últimos 50 anos. Instituto de pesquisa econômica aplicada – IPEA. Rio de Janeiro, janeiro de 1999. Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/2651/1/td_0621.pdf. Acesso em: 03 mai 2019.


GONÇALVES, Ronaldo do Nascimento et al. Diagnóstico ambiental da bacia do Rio Jequitinhonha. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, 1997. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv95902.pdf . Acesso em: 02 mai 2019.

PINTO, J. C. S. Memórias de Itinga. Fundo Estadual de Cultura. ITINGA, 2009. 232 p.


RIBEIRO, Luiz. Êxodo rural deixa cidades fantasmas no Vale do Jequitinhonha. Jornal Estado de Minas. Caderno de Economia. Postado em 17/04/2018 07:00 / atualizado em 17/04/2018 08:07. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/economia/2018/04/17/internas_economia,952184/exodo-rural-deixa-cidades-fantasmas-no-vale-do-jequitinhonha.shtml. Acesso em: 4 mai 2019.


VALE DO JEQUITINHONHA – BLOG DO BANU. Êxodo rural e crescimento desordenado aumentam número de favelas no interior de Minas. 3 de julho de 2015. Disponível em:


VIDAL, Francisco Carlos Baqueiro. Nordeste do Brasil - atualidade de uma velha questão: vicissitudes da teoria do subdesenvolvimento regional no contexto do capitalismo contemporâneo. Salvador, 2001. 326p. Dissertação (Mestrado em Administração) – Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia. 2001. Disponível em: http://www.centrocelsofurtado.org.br/arquivos/image/201108311532340.F_VIDAL3.pdf. Acesso em: 10 abr 2015.

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