Válida só sabia mesmo que tinha que sair. Alguém propôs esse destino que ela conhecia desde que nasceu, e nem conhecia nada ainda. Não desejava deixar aquele lugar Seu, mas, se tinha que ir, iria. A imposta busca por sucesso a uma menina que carrega o estigma de miséria, em um lugar distante do Seu, reflete em diversas tentativas frustradas de ser bem-sucedida. Nesse caminho, ela conhece Genuíno, um personagem carregado de simplicidade e honestidade, mas contraditório, e outras tantas pessoas que tocam sutilmente em sua forma de se ver e ver o mundo. Válida, caminhando sobre a cicatriz de região miserável que sufoca o Vale do Jequitinhonha desde os anos 1970, nos leva a refletir sobre nosso lugar interior, nossas escolhas e concepções.
A ignorância não fica tão distante da verdade quanto o preconceito.

Com prefácio de Wederson Moraes, o livro tem força na personagem. É uma pequena novela, com um texto dinâmico e metafórico, que conta a história de uma moça que deixa o lugar SEU e vai pra o lugar QUALQUER à procura de sucesso, um sucesso que nem ela mesma sabe o que é.

Na ocasião, e durante um de nossos intermináveis e prazerosos colóquios, recebi de suas mãos como presente o primeiro volume de VÁLIDA, confeccionado por ela para os últimos ajustes e, portanto, impresso de forma singela e rudimentar. Ter a posse de tal objeto, por si mesmo inestimável, foi como ter acesso aos bastidores de um grande espetáculo, já que suas páginas trazem correções e notas manuscritas, interrogações, ideias acrescentadas, podadas, modificadas, ou mesmo lacunas a serem preenchidas. Ganhar este precioso mimo, num gesto de credibilidade e despojado desapego, foi como adentrar um recôndito muito intimista do processo criativo da artista, cuja obra, despida de revisões, mostra-se nos traços originais sem receios ou escrúpulos, em sua essência primordial.
Wederson Moraes de Almeida (In fragmentos do Prefácio)



— Do meu sonho.
— Que sonho?
— Esse negócio que comecei.
— Você o ama?
— Amo. É preciso amar nossos sonhos.
— Não sabia.
— Você não ama seu sonho?
— Qual?
— De ter sucesso.
— Não sei.
— Então não ama.
— Como sabe?
— Amor a gente tem certeza.

— Qual a solução?
— Não há um problema, Válida.
— Então, por que você vai?
— Porque posso ir.
— Também pode ficar.
— Mas agora prefiro ir.
— Entendi, então, tem de ir mesmo.
