SÉTIMO
Josenilson deixa sua terra para pelejar no corte de cana. Sua mãe lhe escreve contando que está grávida, justamente quando Josenilson descobre que um de seus irmãos faleceu ainda bebê. Hercília pede que ele volte, pois nascerá Joseano, o sétimo filho homem do casal. O jovem se envergonha em dizer à família que não tem dinheiro para voltar e batizar o irmão, única forma de livrá-lo da maldição de se tornar o lobisomem. Uma pequena aventura que trata do misticismo popular e das vertentes verdes que aeram o tórrido Vale do Jequitinhonha.
Que seja doce a dúvida a quem a verdade pode fazer mal.
Michelangelo
Sétimo é um romance Regional que se passa na cidade fictícia de Água Branca. São cinco gerações – 1983 a 2003, parte na zona rural de uma pequena cidade do interior de Minas, parte nas colheitas de café e cana em São Paulo.
Um Cadim de Sétimo
— Credo. Parece que é lôca essa muié.
— Lôco é ocê que vive numa casa sem porta. Como é que eu vô criá a menina nessa casa véia sem porta?
— Como a gente cria criança ni qualqué lugá.
— E se cobra pega ela? Que aqui tá cheio. E se bicho entra nessa porta aberta? Creindeuspai.
— Pió é faltá comida.
— Pois comida falta aqui também.
— Mas hei de trabaiá muito mais.
— Com esse tanto de cachaça que ocê bebe?
— Pió é ocê que enchia a cara até quando tava buchuda.
— Pió é ocê, bebendo em plena terça-feira. Cê num ia roçá lá ni Leodoro? Tirá ao menos umas mandioca pra fazê uma sopa.
— Eu falei que eu ia oferecê. Mas o véio num quis. Inxotô eu de lá. Também num adiantava de nada, né?
— Num ia adiantá, por quê?
— Ocê sabe cozinhá, muié?
Página 48